Passeio Pelo Bucareste, De Mircea Eliade

eu Vou Bucareste a participar de uma mesa-redonda sobre o assunto Mircea Eliade, cujo centenário se celebra. Eliade (1907-1986) é uma das personalidades mais consideráveis da cultura do século XX, e a mais universal de cultura romena, com perdão de Ionesco, Cioran e Brancusi, todos eles amigos seus. Conhecido especialmente como historiador das religiões, foi também romancista e autor de umas Memórias que estão entre o incrível do gênero. Eliade viveu em Bucareste intermitentemente até 1940, ano em que deixou o país pra não voltar mais do que em breves visitas, a última em 1942 (morreria em Chicago como respetadísimo professor de sua faculdade). O Bucareste atual é uma cidade em pleno processo de acelerada transformação postcomunista.

Mas, uma quota da cidade que contemplava Eliade continua quase intacta. A tarde de minha chegada, vamos ver suas casas. Eliade fez um mito da moradia da estrada Melodiei onde se instalou com seus pais e irmãos no outono de 1914 e viveu tua adolescência e primeira juventude. Mas Eliade bem como é viajante, que percorre Roménia, vai, muito jovem, para a Índia, de onde extrai o material de seu primeiro vasto sucesso como romancista, a bem como autobiográfica Maitreyi. E é atleta, sobe montanhas, navega, está acorrentado ao universo físico. E as redações da capital, e à política, participa da criação do grupo cultural Criterion.

Publica valorizados trabalhos acadêmicos, um livro sobre o Yoga com repercussão internacional… E mantém uma relação complexa com o mefistofélico Nae Ionescu, teu mestre, filósofo radiante e atraído pro lado negro da existência política de sua época. No inverno de 1933, Eliade, via-se mais uma vez confinado entre dois amores. Por um lado, o que o liga à voluptuosa e temperamental Sorana, uma atriz de teatro com a qual mantinha encontros sexuais de

  1. 1956 Prêmio Joan Santamaria Carnaval 86
  2. o Que você acha que merece ser moderador?(não vale elegirte a ti mesmo)
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A outra ligação que mantinha com Nina Mares, que conheci por intervenção de um companheiro, o escritor judeu Mihail Sebastian. E é que, efetivamente, há verde por todos os lados: em uma avenida vi como a hera de um edifício tinha invadido os cabos elétricos e pendia a respeito da calçada, fazendo uma ponte. Enquanto em Barcelona atual desapareceram os lugares com mistério, em razão de tudo é novo ou renovado, em Bucareste a magia vem da acumulação de tempos diferentes, em espaços contíguos.

Mas numa cidade que está passando por uma forte especulação, não há muita incerteza de que, em poucos anos, algumas dessas moradias terão sido derruídas pra montar apartamentos. E as que não sejam derrubados, de não tomar medidas, cairão por si mesmas. Atualmente passear por esta área é como entrar no túnel do tempo, do que se sai ao colidir com os edifícios de aço e vidro e os anúncios de Real Estate do novo Bucareste postcomunista.

nesta área acha-se o Instituto Cervantes, cujo diretor atual, José Garrigós, é em si mesmo parada recomendável que o itinerário eliadeano na cidade. Garrigós (Coimbra, 1942) estudou filologia, apesar de que durante muito tempo viveu do direito. Alexandrescu é sobrinho de Eliade, filho de sua irmã Corina.